VATICANO, 13 de abr de 2007 às 14:58
O Arcebispo de Viena, Cardeal Christoph Schönborn, assinalou na apresentação da nova obra do Papa Bento XVI, que o Pontífice deseja com sua obra "Jesus de Nazaré", que em quem o leia "possa crescer uma relação vital com Ele".
Da Sala do Sínodo, o Cardeal disse que não surpreende que o Papa fale de Jesus porque "esta é primeira e mais importante de suas tarefas". "Surpreendente é como a faz. Não está na capa do livro o nome do Papa: Bento XVI, simplesmente diz 'Joseph Ratzinger'", explica o Cardeal vienense e precisa que "não fala aqui o Papa nem tampouco o agora Cardeal, Bispo, professor, sacerdote, mas sim o simples fiel, o cristão Joseph Ratzinger".
Depois de estabelecer que "o ponto de gravitação, o centro interior de seu livro sobre Jesus" é "a amizade íntima com Jesus" da que "tudo depende", o Cardeal assinalou que o Papa recorda que qualquer um é livre para contradizê-lo.
"No mercado mediático público se vendem, sem pausas, 'descobrimentos' aparentemente novos, que deveriam revelar uma história completamente distinta a de Jesus de Nazaré. A representação bíblica e eclesiástica da figura de Jesus seria assim uma fraude dos prelados e um embrulho da Igreja. A 'verdade' sobre Jesus se veria sufocada por obscuros conspiradores, localizados principalmente no Vaticano", denunciou o Arcebispo.
"A fé –prosseguiu– da Igreja em Jesus Cristo aparece agora como uma 'divinização' posterior de um Jesus de Nazaré, sobre cuja realidade não se sabe quase nada ao certo. 'Esta impressão, no tempo, penetrou profundamente a consciência comum da cristandade. Uma situação similar é dramática para a fé, porque volta incerto seu autêntico ponto de referência' (P. 11)".
Em seguida recordou que Bento XVI escreve no texto que "o leitor compreenda que este livro não foi escrito contra a moderna exegese, mas com grande reconhecimento pelo muito que tem feito e que segue nos dando" (P. 22). "Ele sabe do que fala –indicou o Cardeal–. Seu livro testemunha, em cada página, quanta familiaridade tem com o trabalho das hodiernas ciências bíblicas".
Próprio desta familiaridade, continua o Arcebispo de Viena, "é haver-se visto reforçado na convicção de poder ter fé nos Evangelhos. Ele (o Papa) quer fazer a tentativa de 'apresentá-lo a Jesus dos Evangelhos como o Jesus real, como o Jesus histórico' no verdadeiro sentido. Estou convencido e espero que possa dar-se conta também o leitor, que esta figura é muito mais lógica do ponto de vista histórico também mais compreensível das reconstruções com as quais devemos nos confrontar durante os últimos decênios. 'Acredito que este Jesus – o dos Evangelhos – é uma figura historicamente sensata e convincente' (P. 20)".
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Fantasias sobre Jesus
Continuando, o Cardeal afirmou que "as inumeráveis imagens fantasiosas de Jesus como revolucionário, reformador social, amante secreto de Maria Madalena, etc., podem tranqüilamente depositar-se no ossário da história. Mas a grande pergunta permanece sempre. É em si Jesus coerente? A compreensão que Ele tem de si, de sua identidade, não é um enorme engano da cristandade que permanece durante dois mil anos? O judaísmo e o Islã se escandalizam por esta premissa. Dar uma resposta é o verdadeiro desafio que fica hoje diante do sucessor de Pedro (e Pablo) no areópago do público hodierno".
O Cardeal Schönborn explicou em seguida que no livro, o Papa cita uma obra do rabino Jacob Neusner intitulada "Disputa imaginária entre um rabino e Jesus". Este texto, além de ser importante para o diálogo judeu-cristão, é utilizado pelo Pontífice para ter sempre presente a identidade de Jesus Cristo como Filho de Deus, como Deus feito homem. "É esta a temática central do livro. Trata-se da pergunta de Jesus em Cesárea de Filipo. 'E vocês, quem dizem que sou eu?' (MT 16, 15)".
Logo depois de precisar que o que Jesus contribuiu ao mundo e ao homem é a Deus, que também recorda o Santo Padre em sua obra, o Cardeal vienense indica que o "autor deste libero sobre o Jesus é sem dúvida um ao que Jesus atraiu ao interior desta comunhão com Deus. Dotado de uma brilhante inteligência, de uma 'razão amplamente desdobrada', ele traz aqui o relato de seu comprido caminho com o Jesus Cristo".
"Quem busca abraçar as obras do Cardeal Ratzinger, constatará com profunda admiração, quão fecundos e copiosos foram estes anos de seu serviço pastoral, também do ponto de vista teológico", acrescentou o Arcebispo.
"Seu livro está agora no 'mercado público', oferece-se ao debate nos areópagos de nossa sociedade. O simples desejo de seu autor não é, em primeiro lugar, suscitar debates, inclusive em que pese a saber que não faltarão as contradições. O que deseja é uma só coisa 'que possa crescer uma relação vital com Ele, com Jesus do Nazaré' (P. 23)".